O Segredo Soviético da Europa: Dentro da Transnístria, o País Que Não Existe

Procuras uma experiência de viagem que seja como uma viagem no tempo até à era da Guerra Fria? Escondido no coração da Europa de Leste, há um destino único que não é oficialmente reconhecido por nenhum país — mas funciona como se fosse.

Tem fronteiras próprias, bandeira, moeda e até uma força policial do estilo da KGB. Bem-vindo à Transnístria, um estado separatista dentro da Moldávia que oferece uma das experiências de viagem mais surreais do Mundo.

O que é a Transnístria?

A Transnístria (ou Pridnestrovie, como eles próprios gostam de chamar-lhe) é uma região separatista localizada no leste da Moldávia. Na realidade, ela existe e funciona como um verdadeiro país. Mas não a vais encontrar no mapa. Isto porque, oficialmente, não existe.

Nenhum país no Mundo reconhece a Transnístria como independente. Mas na prática, funciona como um estado totalmente separado dentro das fronteiras oficiais da Moldávia.

Transnistria Map

Tem controlo de fronteiras próprio, moeda, bandeira, hino nacional, forças armadas e até matrículas de carros diferentes.
Na prática, funciona como um país — só que sem reconhecimento internacional.

Apesar de se declarar independente, a região depende fortemente de ajuda económica, apoio político e presença militar da Rússia. A Transnístria é tratada pela Rússia como um posto leal no Leste Europeu e as tropas russas continuam presentes na região. O rublo russo é amplamente aceite, a par da moeda local, e o russo é uma das línguas oficiais.

Transnistria currency
Transnistria flag

A Transnístria tem a sua própria moeda e até uma bandeira própria, mas não é reconhecida como país por nenhum outro país no Mundo

Como é que a Transnístria se tornou num estado não reconhecido?

Quando ouvi falar da Transnístria pela primeira vez, perguntei-me: como é que pode existir um país funcional, mas não reconhecido, dentro da Moldávia?
A resposta está diretamente ligada ao colapso da União Soviética e às divisões políticas que isso gerou na região.

No final dos anos 80 e início dos anos 90, a Moldávia começou a distanciar-se da União Soviética (URSS). O país procurava a sua independência e tentava fortalecer os laços com a Roménia e a União Europeia. Muitos moldavos queriam romper com Moscovo e recuperar a sua identidade cultural, depois de décadas sob o domínio soviético.

Moldova EU
Parliament of Moldova

A Moldávia tem trabalhado bastante na sua independência e quer aproximar-se cada vez mais da União Europeia

No entanto, nem toda a gente na Moldávia apoiava essa aproximação à União Europeia. Havia uma região com uma grande população de língua russa — hoje conhecida como Transnístria — que resistiu à mudança pró-europeia do país

Esta zona manteve-se fortemente pró-Rússia e temia ser absorvida por uma identidade nacional ao estilo romeno. Por isso, em 1990 os líderes transnistrianos declararam independência da Moldávia, criando aquilo a que chamaram República Moldava da Transnístria (ou Pridnestrovie).

Em 1992, estalou uma guerra curta mas muito violenta, que terminou com um cessar-fogo — mas sem qualquer resolução oficial. Desde então, a Transnístria funciona como um estado independente de facto, embora continue sem reconhecimento internacional.

Transnistria pro-Russia
Transnistria

A Transnístria declarou independência da Moldávia para proteger os seus ideais pró-soviéticos

É seguro visitar a Transnístria?

Se pesquisares no Google “É seguro visitar a Transnístria?”, a maioria das fontes oficiais vai dizer que não

Basicamente todos os Ministérios dos Negócios Estrangeiros e embaixadas desaconselham viagens não essenciais. O principal motivo é o facto de a Transnístria ser um estado não reconhecido, o que significa que o teu país não tem embaixada nem serviços consulares na região. Se algo correr mal, não podes contar com a proteção diplomática habitual.

Confesso que fiquei um pouco de pé atrás. A ideia de visitar uma república autodeclarada sem reconhecimento internacional parecia arriscada.

Mas, assim que cheguei, fiquei genuinamente surpreendida com a sensação de segurança que tive na Transnístria. Não há conflitos ativos, as ruas de Tiraspol são calmas e organizadas e os locais são simpáticos e curiosos.

Embora seja verdade que a região tem uma situação política sensível — e que tecnicamente ainda faz parte da Moldávia — o dia a dia pareceu-me tranquilo e seguro.

Local market in Transnistria
Supermarket in Transnistria

Pode parecer arriscado visitar a Transnístria, mas o dia a dia por lá é bastante calmo

Sim, há sempre uma pequena hipótese de surgirem tensões geopolíticas (afinal, estamos a falar de uma região com apoio russo). Mas sejamos honestos: o riso de acontecer algo como uma anexação militar repentina durante a tua curta viagem é muito baixo.

No que toca a segurança pessoal, senti-me mais segura na Transnístria do que em muitos países da Europa Ocidental. O crime — especialmente no que toca a furtos — pareceu-me praticamente inexistente.

Numa igreja, vi quilos de ouro expostos atrás de uma simples vitrina de vidro. Em muitos países, isso não durava nem um dia!

Gold in Transnistria
Church in Transnistria

Achas que tanto ouro sobreviveria uma noite inteira numa igreja no teu país?

Então… é seguro visitar a Transnístria? Surpreendentemente, achei que sim — desde que vás informado, com respeito e preparado.
Só tens de ter em mente que não há embaixadas para te safar se algo correr mal.
Mas para o viajante comum, é um destino tranquilo e que nos proporciona uma experiência de viagem verdadeiramente única.

Como visitar a Transnístria?

Existem duas formas de visitar a Transnístria: por conta própria ou numa tour guiada.

Se és um viajante muito experiente e gostas de explorar por conta própria, podes ir sozinho. Há autocarros regulares e mini vans (marshrutkas) que ligam Chişinău a Tiraspol, a capital da Transnístria.
Se quiseres ficar a dormir na Transnístria, há alguns hotéis onde podes reservar a tua estadia.

O processo de passagem da fronteira costuma ser tranquilo — só precisas do teu passaporte e vais receber um cartão de migração temporário.

How to go to Transnistria
How to go to Transnistria

É possível visitar a Transnístria por conta própria

Dito isto, acho que visitar a Transnístria por conta própria não é a melhor opção.

Pessoalmente, embora estivesse muito curiosa para conhecer este estado separatista com aquele estilo soviético único, não me senti confiante o suficiente para visitar sozinha — e ainda bem que não fui. A região é politicamente sensível, não é um destino muito documentado e pode ser complicado explorar sem conhecimento local.

Para mim, o maior obstáculo foi mesmo a língua: o russo é a principal língua falada e o inglês quase não existe por lá. Isso pode ser um problema sério se algo correr mal e estiveres sozinho, sem forma de comunicar.

Por isso, decidi juntar-me a um pequeno grupo numa excursão desde Chişinău. Acabou por ser a escolha perfeita para mim.

Fui nesta tour desde Chişinău até à Transnístria e foi mesmo a melhor opção para mim

O nosso guia falava russo e não só facilitou toda a logística, como também nos deu uma visão fascinante sobre a vida, a política e a identidade complexa daquela região. A esposa dele é natural da Transnístria e ainda tem família lá, o que deu um toque muito pessoal àquela experiência. 

Além disso, ter alguém que conhece bem o local fez-me sentir muito mais segura.

Por isso, embora seja totalmente possível viajar sozinho para a Transnístria, acho que uma tour guiada é a melhor escolha se valorizas tranquilidade, contexto cultural e facilidade na viagem. Eu reservei a minha tour através do Get Your Guide e tive uma ótima experiência, mas o Viator também tem tours muito populares para a Transnístria.

Por que deves visitar a Transnístria

A Transnístria é daquelas regiões raras que parecem uma viagem no tempo. É um verdadeiro tesouro escondido para viajantes curiosos que procuram algo muito diferente.

Aqui ficam algumas razões para que este país não reconhecido mereça um lugar na tua lista de destinos a visitar.

☭ Uma autêntica cápsula do tempo soviética

Quando cheguei à Transnístria, fiquei mesmo chocada com o que vi. Já tinha lido muito sobre a região e esperava uma sociedade claramente pró-Rússia, mas não estava preparada para entrar numa cápsula do tempo tão perfeitamente preservada da União Soviética.

A Transnístria recusa-se a deixar para trás o seu passado soviético. Celebram-no abertamente e mostram orgulho nele por todo o lado. Ao passeares pelas ruas, vais ver símbolos soviéticos, estrelas vermelhas e até estátuas do Lenin erguidas, exatamente como há décadas atrás.

Soviet signs in Transnistria
Lenin statue in Tiraspol

Há símbolos soviéticos e estátuas do Lenin por toda a Transnístria

Este amor pela era soviética vai para além dos monumentos. Até os aspetos mais comuns do dia a dia parecem parados no tempo: as lojas parecem saídas diretamente dos anos 80, os carros parecem objetos de coleção soviéticos e muitas pessoas ainda se vestem com estilos típicos daquela época.

Life in Transnistria
Life in Transnistria

Vê-se o amor pela era soviética em todos os aspetos do dia a dia na Transnístria

Para onde quer que olhasse, parecia que estava numa viagem ao passado. Mas o que mais me marcou foi quando o nosso guia perguntou se queríamos ir a um restaurante chique ou experimentar algo mais local e autêntico. Claro que escolhemos a opção local — e o que nos esperava foi uma verdadeira experiência gastronómica soviética, diferente de tudo o que eu já vi até hoje.

🍲 Uma Refeição Diretamente da URSS — almoço numa Cantina Soviética

O nosso guia levou-nos a uma cantina local que parecia um museu vivo da URSS.

As paredes estavam cobertas de cartazes soviéticos, bandeiras vermelhas e retratos do Lenin. Havia rádios antigos, slogans de propaganda desbotados e até um martelo e uma foice pendurados acima da entrada da cozinha. Cada canto estava cheio de detalhes soviéticos — era óbvio que aquele lugar tinha muito orgulho no seu tema.

Soviet Cantina in Transnistria
Soviet Cantina in Transnistria

Mal consegui acreditar na cantina soviética onde o nosso guia nos levou

A comida estava à altura do ambiente: pratos clássicos soviéticos como borscht com natas azedas, batatas e rolos de couve com carne. A equipa não falava inglês, mas eram tão simpáticos e prestáveis que gestos chegavam para nos entendermos. O nosso guia também ajudou a pedir em russo quando foi preciso.

Soviet Cantina in Transnistria
Soviet Cantina in Transnistria

Comer numa cantina soviética foi uma experiência mesmo super autêntica na Transnístria

Os locais chegavam para almoçar, a conversar em russo e a fazer fila com os seus tabuleiros. Não parecia um lugar turístico. Era mesmo um sítio onde o espírito soviético continua vivo, tanto no menu como na decoração. Foi uma das partes mais únicas e inesperadas da minha viagem à Transnístria.

💰 Dinheiro de plástico? Só na Transnístria!

Antes de visitar a Transnístria, já tinha ouvido falar das suas moedas de plástico coloridas. Mais parecem fichas de poker do que dinheiro tradicional. Estava curiosa para ver estes rublos de plástico transnistrianos a circular, mas afinal os locais já quase não as usam.

Foram lançadas há alguns anos como edição limitada e desde então desapareceram de circulação quase por completo.

Mas eu estava decidida a conseguir um conjunto de moedas, por isso pedi ajuda ao guia para as encontrar. Em Tiraspol, ele conseguiu encontrar uma lojinha que ainda tinha algumas — e acabei por comprar o último conjunto completo disponível

As moedas vinham em várias cores e valores, todas em estado impecável. Ter aquela coleção foi como segurar uma peça rara da rara História monetária da Transnístria.

Transnistria's plastic currency
Transnistria's plastic currency

Ainda nem acredito que consegui um conjunto das únicas moedas de plástico da Transnístria!

Embora já não sejam usadas no dia a dia, estas moedas de plástico capturam na perfeição o charme único da Transnístria — um lugar onde até a moeda conta uma história impressionante.

🤝 Pessoas Surpreendentemente Acolhedoras

Uma grande parte do que tornou a minha viagem à Transnístria tão memorável foram as pessoas. Apesar da reputação complicada da região, as pessoas locais foram incrivelmente simpáticas e acessíveis — mesmo que a maioria não falasse inglês.

No mercado de Tiraspol, comprei fruta fresca a vendedores que me receberam com sorrisos e me ajudaram a perceber os preços com gestos e sorrisos. Pareciam realmente felizes por ver uma visitante estrangeira. Fiquei impressionada com a simpatia deles. Embora um senhor tenha ficado um pouco chateado quando tirei fotos da banca dele sem comprar nada… ups. Lição aprendida: pergunta sempre antes de tirar fotos ou pelo menos compra uma maçã.

Local Market in Transnistria
Local Market in Transnistria

Adorei conhecer as pessoas locais da Transnístria

Até no supermercado, o ambiente era surpreendentemente tranquilo e simpático. A funcionária da caixa esperou pacientemente enquanto eu me atrapalhava com as moedas que não conhecia, e os outros clientes não pareciam ter pressa nenhuma. Foi muito interessante ter um pequeno vislumbre do dia a dia na Transnístria — simples, calmo e genuíno.

Uma das minhas memórias preferidas foi quando entrei numa igreja pequena, onde um grupo de senhoras mais velhas estava a limpar e a arrumar flores em silêncio. Quando nos viram, sorriram timidamente, acenaram e continuaram com o que estavam a fazer. Houve algo de incrivelmente doce e pacífico naquele momento — um lado da Transnístria que não aparece nas notícias nem nos guias de viagem.

Essas pequenas interações acabaram por formar algo maior. Num lugar que à primeira vista parece tão diferente, o calor humano do dia a dia fez-me sentir inesperadamente bem-vinda.

Supermarket in Transnistria
Church in Transnistria

As pessoas na Transnístria pareciam sempre tão calmas e simpáticas, onde quer que eu fosse

Visitar a Transnístria foi como entrar num universo paralelo. O tempo parece passar de forma diferente, a História ainda vive no dia a dia e as surpresas espreitam a cada esquina. Das estátuas soviéticas às cantinas coloridas, das moedas de plástico aos locais simpáticos, este pequeno país não reconhecido deixou-me uma impressão muito maior do que alguma vez imaginei.

Não é o tipo de destino que se visita pelo conforto ou pela conveniência… Mas se és curioso, de mente aberta e procuras algo verdadeiramente fora do comum, a Transnístria vai recompensar-te com uma das experiências de viagem mais invulgares e inesquecíveis no Mundo.

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